Exoterismo; Esoterismo; Hermetismo; Simbolismo

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Exoterismo; Esoterismo; Hermetismo; Simbolismo

“O Parto [1], a nossa Libertação, tal é a Verdade metafísica, no singular. Porque não há, para um Franco – Maçon regular, cristão, muçulmano, judeu, Verdades metafísicas no plural (…). Não falamos aqui de teologia mas de metafísica” [2].

É necessário em primeiro lugar dizer que os trabalhos maçónicos efectuados em Loja não visam finalmente senão o reconhecimento de cada um: “Conhece-te a ti próprio”. Para isso, o Maçon tem necessidade de apoios, donde os utensílios ma­çónicos e o simbolismo que referem; ele tem o efeito de soltar os elementos da filosofia iniciática de que a Franco-Maçonaria é herdeira, o que remonta à mais alta antiguidade. Trata-se, de facto, de uma sabedoria que se consagra a reencon­trar a causa do efeito, e mesmo a causa da Causa.

Evidentemente esta pesquisa excede largamente o domínio científico porque este, no seu rigor, a priori compreensível, limita-se ao efeito quando a causa lhe esca­pa. A este respeito, a pesquisa maçónica observa uma nítida distinção entre sa­ber e conhecimento-, quando a experiência triunfa, ela faz-nos esquecer a ordem das verdades (agora mesmo) inacessíveis, as que estão em nós e fora de nós. As abstracções que estão em nós não são perceptíveis senão quando se reflectem num sinal concreto exterior, o qual constitui uma espécie de espelho. Dito de outra forma, aparências e realidades comportam um terceiro aspecto a descobrir.

Esta pesquisa evolui em três dimensões:

  • O exoterismo (exoterismo (exo: exterior) = a aparência, o efeito)
  • O esoterismo (esoterismo (eso: interior) = a causa do efeito)
  • Hermetismo (hermetismo = a causa da Causa, a realidade ocultada)

Pela via da comparação aproximativa, podemos tomar como exemplo os estudos experimentais da água:

  • exotérico : o estudo do seu estado físico (líquido, sólido, gasoso, o seu teor em sais de todos os tipos);
  • esotérico : a sua análise química H2O;
  • hermético : a compressão de cada um dos seus elementos.

Na Antiguidade, a Ciência não tinha nenhumas divisórias e era praticada com todas as disciplinas confundidas. Foi recuperada num contexto religioso, envol­vida pelo esoterismo, encerrada no hermetismo.

Vimos (em Os Diferentes Rostos da Franco – Maçonaria) que a Franco – Maçonaria operativa tem as suas origens nas congregações monásticas (benediti­nos, cistercienses) e que os segredos dos ofícios se dissimulavam no esoterismo dos símbolos; quanto aos seus segredos científicos, estes enclausuravam-se no hermetismo da geometria com que certas figuras (grimoire) aparecem em textos incompreensíveis: não é sem razão que os designam assim porque a palavra grimoire tem o sentido de disfarce.

As Ciências ensinadas na Franco-Maçonaria operativa procedem das Ciências conhecidas, a operatividade utilizava as ferramentas que tinham, todas, uma car­ga simbólica.

A partir do princípio do século XVIII, a Franco-Maçonaria, originária da Tradi­ção, consagrou-se ao estudo dos grandes segredos das lei naturais, às causas pri­mitivas, à unidade dos sentidos, reatar (religar) sem se embaraçar em dogmas e religiosidade. Este estudo refere-se sobretudo à Tradição que engloba:

  • o Egipto, a sua história, a sua mitologia;
  • a Cabala, a Bíblia, o Corão e o conjunto de textos apocalípticos ou não;
  • a mitologia greco-romana;
  • o conjunto das religiões: hinduísta, persa, ismaelita, cristã, védica, bu­dista, taoista, etc.

É bem evidente que pode viver-se sem ter acesso a estes conhecimentos, mas será neste caso mais difícil compreender o simbolismo maçónico que se encontra dis­perso no seio da filosofia pitagórica e platónica assim como no conjunto das reli­giões.

Não é no entanto obrigatória a entrega na Franco-Maçonaria ao estudo das reli­giões comparadas porque a Maçonaria emprega (na falta de melhor qualificação) uma metodologia mnemotécnica dos símbolos ligados a uma concepção esotéri­ca, até mesmo hermética.

Em termos mais claros: o conhecimento está em cada um de nós e é o simbolis­mo que nos ajuda a encontrá-la e a fazê-la emergir.

O simbolismo actua como um simulador e convém diferenciar o emblema (ban­deira) do atributo (decoração), da imagem comercial, até mesmo certas alegorias (a cornucópia da abundância, não o símbolo mas a alegoria da fortuna).

Apoiando-se nos trabalhos de Jung, de Piaget e de Bachelard, Gilbert Durand diz que “ o símbolo possui mais do que um sentido artificialmente dado, mas detêm um poder essencial e espontâneo de repercussão ” .

Na Poética do Espaço, Gaston Bachelard precisa: “ A repercussão conduz-nos ao aprofundamento da nossa própria existência: opera uma viragem no ser ”.

Talvez mais do que qualquer outro, o poeta (artista) revela-se particularmente apto a reaprender a riqueza simbólica, donde esta visão poética de Rainer Maria Rilke:

“Se tu queres alcançar o que vive como eixo projecta em torno dele este espaço interior que reside em ti… Não é senão tomando forma na tua renúncia que ela se tornará realmente eixo”.

Mircea Eliade não diz outra coisa segundo uma fórmula diferente:

“A lógica dos símbolos encontra a sua confirmação não somente no simbolismo religioso, mas também no simbolismo manifestado pela actividade subconsciente do homem”

Jung tinha previsto que o simbolismo suportaria tantos tipos de explicações raci­onais, mas a lógica simbólica não é psicológica, ela permanece puramente iniciática e entra no quadro da metafísica:

O verdadeiro fundamento do simbolismo é a correspondência que existe entre todas as ordens de realidades, que se liga umas às outras, e que se estende, por consequência, à ordem natural tomada no seu conjunto, à ordem natural ela própria ” [3].

A palavra ESOTERISMO provém do grego eisotheo que se pode traduzir de di­versas maneiras: Faço entrar, Penetrar Deus, Penetrar a ciência de Deus (tendo em conta que o vocábulo Deus representa uma qualificação aproximativa, inevi­tavelmente degradada em relação ao inefável). De facto, é revelar uma verdade tendo um sentido oculto. Ora, admita-se ou não, todos os rituais maçónicos têm um sentido oculto e, mais precisamente, um sentido esotérico.

Não é por acaso que o Ritual de abertura ao Rito Escocês Rectificado estipula que o primeiro dever em Loja de um bom Maçon, e principalmente de um Irmão Vigilante, é o de assegurar-se se a Loja está bem coberta, se os profanos estão afastados, etc.

O Ritual de encerramento é igualmente significativo: Que a Luz que nos ilumi­nou nos nossos trabalhos não permaneça exposta ao olhar dos profanos. O escritor Maçon Oswald Wirth tenta explicar este sentido oculto, fornecendo o exemplo seguinte:

“Suponhamos um volume imprimido e peçamos a um sábio que o examine se­gundo os seus próprios métodos. Ele olhará o livro como um objecto dotado de propriedades físicas que determinará com exactidão. Medirá as dimensões com aproximação ao milésimo de milímetro, o peso será estabelecido exactamente, as suas características contadas. A ciência fornecerá a análise química do papel da tinta: as investigações irão a este respeito até aos extremos limites da minúcia”.

Mas estas informações não nos interessam senão de uma forma secundária e o essencial seria conhecer o pensamento do autor. Livrai-vos de interrogar o ho­mem dos instrumentos de precisão, ele responder-vos-á que lhe compete perma­necer no terreno dos factos e se deve impedir de comprometer a dignidade da ciência livrando-a dos acasos das especulações filosóficas.

Enquanto relator científico, eu recolhi muitas vezes este género de testemunhos de parte dos grandes nomes da ciência. Na sua pesquisa, o conjunto do Corpo Maçónico não pode comprazer-se com uma ignorância sábia que consistiria em contemplar a fachada do Templo sem ousar penetrar.

Não se trata pois mais de compreender somente o sentido do símbolo maçónico mas de apreender os valores determinantes sem esquecer que a verdade de hoje pode tomar-se o erro de amanhã, o que não quer dizer que o simbólico seja instável. O seu fundamento tradicional é imutável mas a sua vida é dinâmica. Esta dinâmica pode parecer paradoxal já que é no processo involutivo que a evolução se desenvolve.

Para bem compreender este fenómeno, não há melhor meio do que a Simbólica na qual a mitologia e a alegoria se confundem.

Tal pode julgar-se pela alegoria seguinte:

Os sete Entes Luminosos de estatura profética reuniram-se no Núcleo Central dos sete universos conhecidos os quais se separavam dos oitavo e nono universos desconhecidos, assim como do Centro dos centros universais.

Fora de todos os contextos espácio-temporais, o Núcleo Central dos sete univer­sos permitia aos sete Dirigentes da Hierarquia Universal, encontrarem-se. Uma tal reunião revelar-se-ia rara, revestiria sempre o maior segredo face a todas as formas da vida inerentes à vasta extensão cósmica dos sete universos.

Os sete entes fundiram-se para não formarem senão um imenso e indescritível sol, um princípio do qual surgiram sete princípios, cada um dos quais era o reflexo hipostático do seu Ente primordial.

Assim podem eles perceber-se e nomear-se:

  • “Anzël, quer dizer Acolhei-me Senhor”
  • “Gabriel, quer dizer Força de Deus”
  • “Samaël, quer dizer Peixe Superior”
  • “Micahël, quer dizer que é como Deus”
  • “Sachiel, quer dizer Justiça de Deus”
  • “Raphaël, quer dizer Deus Curandeiro”
  • “Cassiel, quer dizer Trono de Deus”

Tal como nós a criamos, a forma humana é quase à nossa imagem, é uma alma viva, eterna, de características perfeitamente proporcionais segundo os níveis das energias masculinas e femininas.

Meus Irmãos, se respondestes ao meu apelo, é para elucidar várias questões que conheceis já e que deveremos debater.

  • A forma humana é perfeita? Questionou Raphaël.
  • Ela é o seguramente no seu contexto, respondeu Samaël.

Raphaël concordou:

  • Com efeito, a forma humana é inocente, ela torna os dias agradáveis e obedece instintivamente às leis universais. Podemos visitá-la, mas ela não nos pode alcançar…
  • Como nós não podemos alcançar os Universos Superiores, acrescen­tou Cassiel. Se dermos à forma humana perfeita o poder de nos alcan­çar ser-nos-á possível alcançar, pela nossa parte os Universos Supe­riores.

Com efeito, onde reside o impedimento?

  • Na nossa perfeição, mesmo que Perfeitos, não podemos devolver o Amor ao Criador. Somos Deuses mas resta alcançar Deus.

Numa unidade de pensamento, cada um aprova.

  • Nós evoluímos de modo a excluir a possibilidade de todo o tipo de sen­timento, prosseguiu Raphalë, mas esta Libertação torna-se uma prisão na medida em que ela nos impede de evoluir na direcção do Ser Supremo: o nosso Criador, que pela virtude do Amor divino dá a vida eterna mas, sem nenhuma dúvida.

Sachiel intervém:

  • Impõe-se uma nova fase.
  • A involução, declara Samaël, sem hesitar.
  • Sim, aprovou Raphaël, porque não é senão pela involução que a evo­lução da forma humana nos ajudará a evoluir. Temos necessidade da nossa Criação como ela tem necessidade de nós. Para o conseguirmos, devemos restabelecer a lei dos contrários. Estais prontos, meus Irmãos, a recriar sem vós a vossa dualidade e a extirpá-la imediata­mente?

De comum acordo, os sete concentraram-se e fizeram nascer os seus contrários.

De Ariël saiu Belzebu, o príncipe dos Demónios.

De Gabriel saiu Samaël que de Peixe Superior se tomou Príncipe dos Ares e Anjo do Julgamento.

De Samaël, Peixe Superior, saiu Python, o Espírito das Profecias.

De Michaël saiu Asmodec, o Anjo Exterminador.

De Raphaël saiu Lucifer, o Espírito da Luz Astral.

De Cassiel saiu Satã, o oposto de Deus.

Raphaël avisou Lucifer, o seu altar ego:

  • Aceitas este Grande Acto de Amor, o de seres odiado pelo nosso nú­mero? Porque é sobre ti que recairá a pesada carga de tentar a forma humana perfeita, mas sabe que, no fim dos tempos, serás reabilitado enquanto Portador da Luz, porque é sobre a tua fronte que brilhará a Estrela da Manhã.
  • Aceito, respondeu Lucifer. Satã assistir-me-á fielmente na obra involutiva que me foi confiada.

É então que o imponderável se produz. Os Deuses não tinham previsto que, ao recriarem a dualidade esta engendraria uma espessura irreversível: desde logo Satã tomava-se a condensação emocional do medo, de cupidez, do orgulho, do ódio, a face inversa das mais altas manifestações do Amor. Ele teve êxito ao convencer Lucifer que a única maneira de evoluir para a forma humana perfeita seria conhecer todos os desvios e perversões do Amor.

Comigo, formulou ele dissimulando habilmente um grande orgulho interior, a primeira fase do homem perfeito conclui-se. Ele terá três outras fases no decurso das quais ele fará surgir as energias cada vez mais negativas. O último período será o mais suportável e permitirá ao homem dilacerado abandonar-se à miseri­córdia de Deus e de rezar pela salvação, de que resultará então um Amor e uma Fraternidade que serão reconhecidos pelos Sete Universos, os quais poderão então comunicar com os Universos Superiores.

A corrupção do género humano não foi coisa fácil. O Andrógeno é como uma criança difícil de convencer.

Estes seres puros, pouco numerosos não compreendiam a nova linguagem de Lu­cifer e Satã que, por telepatia, tentavam explicar coisas incompreensíveis:

  • A vossa matéria corporal é tão subtil que podeis separar o vosso ser masculino do vosso ser feminino e reunir estas duas entidades no êxta­se sexual, conhecereis um grande prazer, uma intensa vibração de tipo desconhecido…

Ninguém o compreendeu, nenhum se declarou voluntário para viver esta expe­riência absurda. Assistiram à primeira cólera, a de Satã:

  • Se continuais assim, não conhecereis jamais nada, não evoluireis ja­mais…

Conhecer, evoluir, eram conceitos vazios de sentido. Não sendo a procriação necessária, os prazeres sensuais permaneceriam desconhecidos.

Constatando a impossibilidade de corromper a perfeição, Satã não teve outro re­curso senão projectar para fora de si mesmo uma entidade aparentemente andró­gina, distinta de si, um Duplo que incitou os homens perfeitos a excitar os seus sexos, praticamente inexistentes, mas que, sob a acção psíquica criou o órgão; esta metamorfose estendeu-se por vários milénios e não atingiu senão um peque­no número: os outros evaporaram-se por outros mundos.

Agindo à sorte, Satã transgrediu uma lei capital que interditava misturar procriativamente seres criados por Deus: a lei contra o incesto [4]. A partir daí, Lúcifer dessolidarizou-se de Satã que, pelo seu acto incestuoso, criou a Morte tomando-se ele próprio mortal. Aquando a aparição da Morte produziu os seus primeiros efeitos, era já demasiado tarde. Os corpos masculinos e femininos, separados, procuravam-se irresistivelmente para retomarem a unidade perdida mas o seu encontro não produzia senão o orgasmo, essa coisa agradável não é senão uma degradação do Grande Prazer Espiritual. Cada um e cada uma procurava a sua metade perdida e, não a encontrando, renovavam a experiência sexual com outros parceiros. Muitos conheceram o sentimento de rejeição e este foi uma nova feri­da no coração humano.

Este incomparável desastre expandiu-se no primeiro Universo e, curiosas de ve­rem em que se transformava exactamente, invadiram a Terra, e é então que a sombra histórica da humanidade terrestre começa a sua difícil e dolorosa involução evolutiva, incompreendida pelo profano porque é totalmente esquecida, apri­sionada na matéria que (pelo processo as energias invertidas) criou a sua própria filosofia: o materialismo. Ou, mais exactamente, a Matéria-prima.

Assim, o Homem estava condenado a tomar-se o seu próprio alquimista come­çando por experimentar a sua prisão material, corporal, sexual, espiritual: a Obra ao Negro.

Desligar o sentido filosófico de um símbolo corresponde a praticar o esoterismo (cuja terminologia é demasiadas vezes incompreendida sendo falsificada); é assim que a alegoria que acabamos de ler liberta a coisa abstracta para a concre­tizar ( a palavra alegoria vem do grego allêgorien, falar por imagens), o que fez Dante escrever:

“Oh vós que tendes o entendimento são, admirai a doutrina que se esconde sob o véu destes estranhos versos”.

E Aristóteles:

“A fábula é uma narrativa que representa a verdade”

Uma definição lapidar diz que o simbolismo é um sistema a interpretar os factos ou a exprimir as crenças. Mas o facto é uma coisa, a crença é outra. Segundo Ernest Menam: “ A forma obrigatória de todas as religiões é o simbolismo”. O que é verdade mas ainda será necessário perceber o verdadeiro sentido da palavra religião : reunir o Homem a si mesmo é reuni-lo ao inefável. O que a ortodoxia religiosa não respeita desde há muito.

As palavras simbolismo e simbolista não têm mais de cem anos de existência. Nasceram de um movimento poético, literário, artístico, que nasceu em França por volta de 1885. Lembrar esta origem permitir-nas-d separar o subtil do pro­fundo e ter em seguida uma mais justa visão da simbólica Franco-Maçónica. Este movimento (que entusiasma os surrealistas) acentuou-se no século XX opondo-se ao positivismo de Augusto Comte e a uma literatura que ligou a sua sorte à ciên­cia oficial.

Nesta época, a ciência considerava o tempo como uma dimensão principal e de- dicava-se a observar a sucessão de fenómenos cautelosamente isolados uns dos outros. Se esta separação começa a diminuir nos nossos dias, as suas fronteiras têm ainda a vida dura, digamo-lo de passagem.

O simbolismo toma o contrario porque é do senso comum e do espírito científico, abrindo a porta à experiência tanto activa como passiva de um conjunto indivisí­vel ( o ser – a sua interioridade – o universo) cuja dimensão principal, não toma o espaço nem mesmo uma extrapolação do contexto espácio-temporal mas um de cá deste: a procura de si, numa palavra.

Contrariamente ao que poderíamos julgar, esta atitude foi reconhecida como mais realista (apesar do seu idealismo de princípio, ou por causa deste ideal) que o pretendido realismo, limitado na realidade relativa dos cinco sentidos da apreen­são.

Foi então Charles Baudelaine que adaptou esta posição no seu poema Corres­pondências (1857):

A Natureza é um templo donde colunas vivas
Deixam por vezes sair palavras confusas;
O homem por aí passa através de florestas de símbolos
Que o observam com olhares familiares

Desde então, o símbolo já não significa a imagem substituída a uma ideia abs­tracta, ele toma-se mesmo o que é visto pelo olho interior do poeta: o homem iniciado (ou em vias de iniciação).

Impressionado por este novo valor intrínseco, Jean Moréas, tirou, vinte e nove anos mais tarde, os derivados simbolismo e simbolista num manifesto publicado em 18 de Setembro de 1886 pelo Figaro Literaire . Cometeu porém um erro de vocabulário ao traduzir universo dimensão interior, pela palavra espaço :

Tudo é experiência do espaço na vida de um simbolista, seja quando ele se contenta em viver, seja quando compõe um poema […]. O poema apresenta ele próprio uma experiência vivida fora do Tempo, é um templum traçado no espaço poético e oferecido ao leitor, mas que difícil vitória sobre o conflito das duas forças con­trárias que ele representa”.

São justamente estas duas forças contrárias que, na Franco-Maçonaria se har­monizam, não sobre o terceiro ponto do triângulo como crêem ainda alguns Ma­çons, mas no seu centro (ver figura).

O ponto central do triângulo corresponde às três energias harmonizadas na Unidade.

Está lá sempre o simbolismo, pensar-se-á de maneira profana, associando o sim­bolismo a uma simples visão do espírito.

É com efeito uma visão do espírito. E é toda a diferença que existe entre a visão profana e a visão iniciática: toda a expressão simbólica traduz o esforço humano para decifrar primeiro e dominar em seguida, o não humano que normalmente designamos por um conjunto de fórmulas subjectivas : destino, fatalidades, azar, etc. .

A melhor definição de símbolo foi dada, sem dúvida, por Carl Gustav Jung :

“ Uma imagem própria para designar o melhor possível a natureza obscuramen­te suspeitada do Espírito”.

Texto recolhido e traduzido da obra de Roger Luc Mary Le Symbolisme dans la Franco- Maçonnerie, Paris, Editions de Vecchi, 1993

Fonte

  • Cadernos de Cultura Maçónica nº 1 organizados pela Loja Astrolábio nº 51, a Oriente de Palmela (GLLP / GLRP), com coordenação de Alberto Trovão do Rosário, Antigo Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP.

Notas

[1] “Deliverance”, no original.

[2] Pierre Warcollier

[3] René Guénon – Realces sobre a Iniciação

[4] A palavra incesto provém do latim castus, a qual foi abusivamente associada à castração. De facto. IN CESTE quer dizer NA CASTA. É interessante notar o paradoxo: por um lado, a interdição teológica da mistura das castas (mistura do sangue e das raças); por outro lado, é pela diferença, que a evolução pros­segue: sistema evolutivo da involução. Num plano secreto, iniciático, a desobediência assume um valor transcendental.

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