A lei iniciática do silêncio (ver, ouvir e calar)
Platão, chamado que foi a ensinar a arte de conhecer os homens, expressou-se assim. “Os homens e os vasos de terracota conhecem-se do mesmo modo: os vasos, quando tocados, têm sons diferentes; os homens distinguem-se facilmente pelo seu modo de falar”.
O pensamento do filósofo Iniciado oferece-nos excelente oportunidade para uma profunda reflexão, principalmente para os que integram a Ordem Maçónica. Nem sempre, nos damos conta, de como nos tornamos prisioneiros das palavras que proferimos. Por ser a expressão do nosso pensamento, por traduzirem as ideias e os sentimentos, as palavras tornam-se um centro emissor de vibrações, tanto positivas quanto negativas.
A palavra é o elemento que identifica o Homem, e é a síntese de todas as forças vitais; é o elemento que interliga todos os planos, do mais denso ao mais subtil. A palavra está intimamente ligada ao silêncio, outra sublime expressão da psique humana. No mundo profano a palavra – falada ou escrita – é usada indiscriminadamente.
A sociedade humana está cheia de palavras que ofendem, humilham, magoam, e que denigrem a honra do próximo. Se se trabalhasse mais e se falasse menos, com certeza que a humanidade seria mais evoluída e mais civilizada. Infelizmente existem palavras em excesso, não só no mundo profano como também nos Templos Maçónicos.
Tal situação é inconcebível num Maçon, pois no estudo dos símbolos ele aprende a reflectir sobre o conteúdo oculto das palavras que, em última análise, reflectem a essência interior do ser humano. Não por acaso a doutrina Maçónica reserva o silêncio aos seus membros, de acordo, aliás, com a Tradição Pitagórica.
A Escola Iniciática de Pitágoras tinha um sistema de três graus: o de Preparação, o de Purificação e o de Perfeição. Os neófitos do grau de Preparação, equivalente ao grau maçónico de Aprendiz, eram proibidos de falar; eram só ouvintes e cumpriam um período de observação de três anos, durante o qual a regra era calar e pensar no que ouviam. No grau de Purificação, equivalente ao de Companheiro Maçon, o silêncio estendia-se por mais dois anos, adquirindo estes Irmãos o direito de ouvir as palestras do Mestre Pitágoras. Assim, para atingir o grau de Perfeição, equivalente ao de Mestre Maçon, quando então os Irmãos podiam fazer uso da palavra, era necessário praticar o silêncio durante cinco anos.
Nas reuniões maçónicas, sem dúvida, constitui uma prova de sabedoria saber ver, ouvir e manter o silêncio. Chílon, um dos sete sábios da Grécia Antiga, quando perguntado sobre qual a virtude mais difícil de praticar, respondia: “calar”. No Zend Avesta, que contém toda a sabedoria da antiga Pérsia, encontramos normas e regras sobre o uso e o controle da palavra, cuja universalidade desafia os séculos. No mundo maçónico, a dimensão da palavra falada e escrita, não é diferente.
Ao entrar na nossa Sublime Instituição encontramos, na ritualística, referências à sacralidade da palavra que, como meio de expressão dos pensamentos e dos sentimentos, deve ser sempre dosada, moderada, e deve espelhar o equilíbrio interno do orador. Na nossa Ordem, a palavra deve ser usada no mesmo sentido em que Dante Alighieri exortava o seu personagem Metelo, na Divina Comédia: “usa a tua palavra como um ornamento”. À primeira vista, o silêncio poderia parecer um condicionamento e um castigo. Na realidade, o silêncio, a meditação e o raciocínio, são a única via que leva à libertação das paixões e dos maus pensamentos.
Além de exercitar a autodisciplina, no seu silêncio, o Maçon aprende com muito maior intensidade tudo o que ouve e tudo o que vê. Assim, a voz do Irmão que se mantém em silêncio é a sua voz interior, quando ele dialoga consigo mesmo e, neste diálogo, analisa, critica, tira as suas próprias conclusões e aprimora o seu carácter. Em suma, pelo silêncio, a Maçonaria estimula os Irmãos a desenvolver a arte de pensar, a verdadeira e nobre Arte Real. Deste modo, o silêncio em Maçonaria não é meramente simbólico e não é também um meio de castrar a iniciativa dos Irmãos.
O silêncio é indispensável e decisivo no processo de lapidação da Pedra Bruta e no aperfeiçoamento interno dos Irmãos. Ao cruzar as portas de uma Loja Maçónica, trazendo consigo a liberdade total de expressão, um direito natural que lhe é garantido pela Declaração dos Direitos Humanos, sem as restrições que lhe impõem a moral e a razão, o novo Maçon aprende a controlar os seus impulsos, pela prática espartana do silêncio. Assim ele aprimora o seu carácter e prepara-se para ser um líder, numa sociedade na qual prevaleçam a Liberdade responsável, a Igualdade de oportunidades e a Fraternidade solidária. Se tiver de falar, que o Maçon siga o conselho de Dante e use a sua palavra como um ornamento.
Tudo se resume na prática da Lei do Amor e da Tolerância. Certamente, que o Supremo Arquitecto do Universo ilumina e abençoa a todos os que vêem, ouvem e calam, mais do que falam, pois estes espiritualizam a sua matéria, e são os Seus filhos mais dilectos.
António Rocha Fadista
Excelente texto, além de sábio!
Prezados administradores do site, parece que há um problema de autoria nesse artigo. Na publicação do meu blog, no ano de 2015, (https://opontodentrocirculo.com/2015/05/29/a-lei-iniciatica-do-silencio/) o autor é o irmão Antônio Rocha Fadista. E a fonte de onde tirei o artigo o publicou no ano de 2010.
MQI Luis Marcelo Viegas. Muito Obrigado pela sua informação. Estive a pesquisar e o artigo é realmente de António Rocha Fadista. A mim, chegou-me com outro autor. Já fiz a correcção. Receba um TAF de António Jorge