Maçonaria e Igreja Católica: As razões de um diálogo

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Paulo Rola – Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP, maçonaria
Paulo Rola – Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal / Grande Loja Regular de Portugal

É com muita atenção e progressiva satisfação que a Maçonaria Regular portuguesa tem seguido as palavras do novo Papa Leão XIV, desde a sua proclamação inaugural como Sumo Pontífice. Nesse sentido, transmitiu-nos esperança desde logo o conteúdo do seu primeiro discurso a partir da Basílica de São Pedro, logo após ser eleito pelo conclave cardinalício no dia 8 de maio.

“A paz esteja com todos vós!” foi (todos estamos lembrados) a primeira frase pública de Leão XIV aos milhares de fiéis em ovação. Na mesma ocasião, proclamou a necessidade de “uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, dialoga, sempre aberta para receber como esta praça com os braços abertos. A todos, a todos aqueles que precisam da nossa caridade, da nossa presença, do diálogo e do amor”.

Dois dias depois, dirigindo-se aos cardeais, o novo Papa reforçou esse sentido da abrangência ao destacar vários pontos da Exortação Apostólica ‘Evangelii Gaudium’ de S.S. o Papa Francisco, sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. Um desses pontos, a necessidade de “um diálogo corajoso e confiante com o mundo contemporâneo nas suas várias componentes e realidades”.

Nascido Robert Francis Prevost, em Chicago, o novo Papa conhece certamente tudo o que os Estados Unidos da América – nos seus princípios definidores e direitos fundamentais – devem à Maçonaria, a começar por muitos dos seus pais fundadores e, inclusive, o seu primeiro presidente da República, George Washington, também ele maçom. Com efeito, é nos EUA que hoje encontramos a maior concentração de maçons no Mundo, seguidos pela região da América Latina e Caraíbas, na qual o atual Papa Leão XIV passou anos em trabalho missionário.

Não nos restam, pois, quaisquer dúvidas: O novo Pontífice conhece certamente o trabalho maçónico em prol do desenvolvimento humano e social e de afirmação dos valores da Maçonaria Regular: A Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.

De igual modo, não ignora certamente o novo Papa que, na Maçonaria Regular – uma instituição onde é obrigatória a crença num Ser Superior ao Humano e por isso salientada a dimensão divina do Grande Arquiteto Do Universo – múltiplos exemplos existiram no Passado, e muitos existem também no presente, de representantes da Igreja Católica Apostólica Romana na Maçonaria Regular. Cardeais, Arcebispos, inclusive Papas, terão sido maçons. E isso mesmo depois da tristemente famosa Bula In Eminenti Apostolatus Specula, emitida por Clemente V em 1738 e que, de forma para os maçons regulares não compreensível, ressoa ainda hoje no Vaticano nas alocuções que acusam os maçons e os ameaçam com a excomunhão.

É aliás essa precisamente a situação que acreditamos poder agora vir a ser alterada. Assim como o Dicastério para a Doutrina da Fé voltou a reafirmar em 2023 a irreconciliabilidade entre a doutrina católica e a Maçonaria, assim acreditamos que essa anacrónica posição será eliminada. Ela apenas serve para entristecer e ostracizar milhares e milhares de católicos maçons, que em todo o mundo trabalham para o seu melhoramento e o da sociedade, sem com isso em nada depreciarem a sua fé em Cristo e em Deus, ou diminuírem através do seu trabalho maçónico a sua dedicação à Igreja como católicos. Pelo contrário.

Ciente disso mesmo, em abril de 2021 e inspirada então pela Encíclica Papal Fratelli Tutti, a Maçonaria Regular portuguesa endereçou a S.S. o Papa Francisco uma carta assinada pelo então Grão-Mestre, Armindo Azevedo. Nessa carta, salientávamos já como os princípios defendidos pela Encíclica vinham ao encontro daqueles defendidos pela Maçonaria Regular, nascida no dia consagrado a S. João, o Batista.

De igual modo, a carta salientava as declarações públicas, datadas de 2016, do Cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Colégio da Cultura, numa carta aberta aos maçons regulares, “Cari Fratelli Massoni”, o qual falava de construirmos pontes e não muros, lembrando que entre os valores comuns que unem as duas instituições estão a sua dimensão comunitária, de dignidade humana, de beneficência e de combate ao materialismo.

Infelizmente, como antes citado, dois anos depois dessa carta – e através do Dicastério para a Doutrina da Fé – o Vaticano reafirmou o caminho oposto e reiterou a prática maçónica como inconciliável com a fé católica.

É essa posição que pretendemos agora que comece a ser revertida. Cremos que a eleição do novo Papa que escolheu para si o nome de Leão XIV, para mais sendo norte-americano, justifica que perseveremos nos nossos argumentos de uma visão com pontos comuns entre a Maçonaria Regular e a Igreja Católica, tanto para o Homem como para o Espírito.

Por assim o acreditarmos, iremos reiniciar as diligências, através de uma nova comunicação a S. S. o Papa Leão XIV, exortando a que, desde logo na fase inicial do seu Pontificado, dê sinais de abertura para que possa existir uma reconciliação no coração dos milhões de maçons regulares de todo o mundo com a Igreja Católica, podendo eles assim comungar na certeza de que o amor a Cristo que os move é tão puro quanto o amor ao Homem que junta, em fraternidade, homens livres e de bons costumes em todo o planeta. Para que a paz esteja – verdadeiramente – com todos nós, neste mundo conturbado e ameaçado, o caminho a seguir é o do diálogo aberto e o da comunhão entre aqueles que partilham do mesmo amor por Deus e pelos Homens.

Paulo Rola – Grão-Mestre da Maçonaria Regular

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1 thought on “Maçonaria e Igreja Católica: As razões de um diálogo”

  1. Diego Almeida Scherer

    AINDA SOBRE A INCOMPATIBILIDADE E A NEGATIVA DO CATÓLICO SER MAÇOM PELA IGREJA

    “No ofício de Grão-Mestre adjunto, Desaguliers contribui ativamente para a redação dos primeiros rituais. Introduziu nestes a ideia de que os maçons operativos faziam do trabalho, como um ato nobre, um dom de Deus, e não, como se pensava até então, como uma maldição, um castigo devido à expulsão do paraíso, como está no Gênesis (4:17­-19). *Por falar em Deus, a expressão GADU, apesar de ter sido introduzida por Anderson, tem também o dedo de Desaguliers, pois o referido conceito – GADU – facilita a introdução do deísmo na maçonaria nascente, substituindo o teísmo católico, tão bem professado pelos maçons operativos, reforçando assim o anglicanismo que era um pouco mais aberto à tolerância do que a religião de Roma. Convém ainda salientar que o deísmo é mais professado entre os cientistas crentes do que o teísmo, o Deus de Leibniz, de Spinoza, de Einstein, dos cientistas enfim, não é o mesmo Deus de Abraão, Isaac e Jacó.* E Desaguliers como cientista…”

    (FONTE: https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2017/06/07/quem-foi-jean-theophile-desaguliers/)

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