Uma fábula de pedreiros livres
Eram 12h00m em ponto e o sol estava a pino, quando o irmão segundo vigilante mandou os obreiros para o trabalho; a grande obra ganhava mais um dia de suor e labor daqueles valorosos e dedicados obreiros pedreiros livres
Como de costume o canteiro estava impecável e a cada peça terminada rapidamente assumia o se lugar e dava lugar a outro trabalho. Tão dinâmico se dava todo o processo que foi fácil para alguns perceberem um jovem irmão que destoava dos demais por estar impavidamente imóvel diante de uma pedra milimetricamente esquadrada e de tal forma polida que, como um espelho; este podia avistar todos os que estavam ao seu redor, apenas fitando através das suas 4 faces.
Envolvidos nas suas actividades individuais, muitos dos irmãos nem sequer lhe davam atenção, porém ele estava a ser observado do oriente, extasiado com aquela construção, estático, como quem espera os louros de uma grande conquista.
Percebendo isto, muitos dos mestres ignoravam-no – “não lhe daremos atenção” – dizia um mestre a outro – “para que não fique cheio de si” – sussurravam.
Mas um dos irmãos, o mais sábio por sinal, portando um livro aberto sobre fundo radiante foi ter com este irmão companheiro.
– Boa tarde meu querido irmão, mas que bela obra tens aí!
Ao que lhe respondeu o jovem companheiro:
– E não o é? Poucas vi iguais, com tamanha precisão e tão perfeito esquadramento. Acho até que deveria ser exposta como exemplo, para que todos pudessem ver que beleza é esta obra.
– Sem dúvida – concordou o Orador – e acrescento, uma construção tão bela precisa de ser imortalizada, pois a que outra pedra restaria a honra de ser a base, no angulo Nordeste de tão promissora construção que erigimos aqui?
Logo aquela conversa suscitaria a atenção de outros irmãos, pois afinal, não era todo dia que a sabedoria do Irmão orador estava ao alcance de todos no ocidente.
Por fim amontoaram-se vários irmãos para admirar aquela cena e muitos deram-se conta daquele trabalho justo e perfeito, que por tanto tempo apenas aquele companheiro olhara e observara.
“Estou muito feliz por tanta atenção conquistada”, disse aquele jovem irmão.
“Perfeitas as suas palavras meu sábio irmão Orador, e a propósito, visto que tão perfeita obra produzi, já é tempo de ser reconhecido o meu valor nesta oficina, inclusive, desafio-os a encontrar alguém que obra tão bela como esta, tenha esquadrado, e certeza não encontrará. Por tê-la feito, exijo o meu aumento de salário”
O irmão Orador, sem que sequer lhe tremesse o semblante, assentiu com a cabeça; neste momento já observado por toda a loja que simplesmente parou, serenamente respondeu-lhe:
“Mais uma vez tendes razão” – e todos o fitaram com surpresa, porém ele continuou – “e aceito está o teu desafio; advertir-te-ei contudo de que uma obra não pode ser considerada completa e perfeita, apenas ao vermos o seu exterior, pois assim como a romã é sustentada internamente pelas suas sementes, a rectidão e a justiça somente serão sustentadas por fortes princípios internos, que não se podem ver a olho nu. Mas veremos ao nosso redor.
Com tantos irmãos a olhar para o que estava a acontecer, poucos estavam a trabalhar; porém ao olhar para o topo da coluna nordeste, lá estava um pequeno aprendiz, com uma pedra tão perfeita quanto a do companheiro, e que por estar tão concentrado no seu trabalho, nem sequer levantou a cabeça quando aquela turba foi ao seu encontro.
Ao perceber enfim o Orador à sua esquerda e o companheiro à direita, o aprendiz cumprimentou-os com respeito e disse:
– “A que devo tanta honra meus irmãos, para virem observar-me no trabalho?”
Ao que o companheiro, que sem sequer lhe responder já começara a medir a pedra do aprendiz como que a procurar alguma imperfeição, enquanto este conversava como o irmão Orador, respondeu:
– “Que bela obra tens aí irmão aprendiz” – ao que lhe respondeu.
– “Trabalho nela há muito tempo meu irmão e sempre que penso que está completa, procuro e encontro alguma imperfeição, pelo que começo novamente o trabalho alegremente, pois não é o fim que procuro, mas um eterno recomeço”.
Sem o ouvir como deveria, o companheiro diz:
– “Pois então, acho que não te deves preocupar mais com isso, pois inspeccionei a tua obra e é claro que não está tão boa quanto a minha, mas está quase perfeita; acho até que deves exigir também aumento de salário, e permito-te até que ponhas a tua pedra logo acima da minha, como base no ângulo Nordeste da obra que sobre elas será levantada. O nome… insisto que seja posto somente na minha, pois venci o desafio”.
Fitando-o com cara de dúvida, o irmão aprendiz olhou-o com ternura.
– “Meu irmão companheiro, com todo o respeito, não entendo como posso eu vangloriar-me desta obra se não fui quem a construiu”.
– “Mas como, se vejo teu avental assim como toda a tua vestimenta lavada em pó de pedra e tu mesmo disseste que há tempos vem trabalhando nesta obra?” Questionou-o enfaticamente o companheiro.
“E afinal não é isso que viemos fazer aqui?” – Interrompeu-o educadamente o Orador – “ou julgas que gastamos em vão as nossas forças?”
Ouvindo-o pacientemente, o irmão aprendiz pediu a palavra:
“Entendo a dúvida do nosso irmão companheiro, porém, ainda assim, não me sinto proprietário desta obra apenas por que trabalhei nela” – e estendendo nas mãos o maço e o cinzel. disse – “sinto que nesta construção e com estas ferramentas, que nas mãos de Deus, dão forma ao que o G:.A:.D:.U:: projectou para a minha vida e para a vida daqueles ao meu redor”. – e completou – “como poderia eu roubar a glória do Grande Arquitecto, pois se for da sua vontade, nem sequer me levanto da minha cama pela manhã, nem sequer respiro o ar que a todos é facultado gratuitamente?”.
Contudo, com o coração endurecido, o companheiro pôs-se a exigir a promessa do Orador e um grande brado fez-se ouvir do trono de Salomão.
“Fazei cumprir o que foi prometido ao irmão companheiro” – Era a voz do Venerável Mestre – “porém será minha a honra de escrever o que lhe cabe na sua pedra”.
Feliz que não cabia em si, o companheiro viu a sua pedra ser posta no topo da coluna Nordeste e várias pedras serem colocadas sobre ela, e quanto mais pedras eram colocadas mais ela vibrava; rapidamente se começou a perceber um problema. Por mais que os mestres tentassem, não se conseguia manter a estrutura firme e a beleza daquela obra não se sustentava, até que pararam de construí-la, pois o material estava sendo gasto e nada parecia dar certo.
Indignado com o que ocorrera, o irmão companheiro acompanhado do Orador e do irmão arquitecto foram vistoriar a construção.
“Só podem estar a pretender prejudicar-me” – disse o irmão companheiro – “como pode uma pedra tão perfeita ser a base duma construção tão imperfeita?”
Sem nada dizer, os irmãos Orador e arquitecto puseram-se à espera, aguardando que algo fosse percebido pelo companheiro. O que na verdade, foi.
Ao olhar com a devida atenção, o irmão companheiro percebeu que o Venerável Mestre não tinha escrito o seu nome na pedra, mas tinha gravado uma palavra: estava lá escrito “VAIDADE”.
Então entendeu, e chorando, voltou-se para o irmão aprendiz e pediu-lhe sinceras desculpas. Com os olhos também marejados, o irmão Orador deu-lhe um abraço e antes que ele também se desculpasse, disse:
“A mais bela obra sustentada sobre a vaidade é oca e sem destino, morre em si mesma e mata tudo o que se aproxima dela. A vaidade é o pior dos vícios, pois é inimiga da inteligência, visto que o vaidoso acha que já não tem mais nada para aprender e é relegado ao ostracismo e à solidão, pois por se achar tão melhor que todos, isola-se no seu próprio ego. A vaidade já destruiu impérios, e até universos, pois quando uma Loja morre por vaidades, é um conjunto de galáxias que se perde”
O venerável Mestre ao ver que ainda não se tinha conseguido recuperar da lição que tinha aprendido, dirigiu-se ao companheiro nas suas palavras finais:
“Anima-te irmão companheiro, pois agora é a hora de aprender. Tenho a certeza de que a partir desta lição serás, em devido tempo , um mestre mais preparado do que terias sido se por tudo isto não tivesses passado”. – e acrescentou – “de toda obra que sair das tuas mãos, dá graças ao Grande Arquitecto, pois é dele que vem o querer e o realizar; agradece sobretudo por estares aqui e por seres maço e cinzel nas suas mãos a construir um novo mundo, que a partir de hoje tem uma pedra mais desbastada, que és tu, a fazer parte desta construção”.
“Que horas são, irmão primeiro Vigilante?”, bradou do Trono de Salomão.
“Meia noite em ponto”, respondeu-lhe o irmão Primeiro Vigilante.
E mais um dia de trabalho se passou naquela oficina, com a certeza de que os trabalhos decorreram de forma justa e perfeita, e mais um pequeno passo se deu para a evolução do ser humano, pois afinal é o que viemos fazer aqui.
“Uma mente que se abre a uma nova ideia, nunca mais volta ao seu tamanho original.”
Albert Einstein
Adaptado de publicação no grupo do Facebook, Frater:. Univ:. 07