Fases de uma Sessão no Primeiro Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito
Sobre o Ritual de Abertura em uma Sessão do Primeiro Grau, me perguntei, por que o diálogo inicial? Também pensei que havia uma contradição, quando o ritual relata que os trabalhos se iniciam quando o Sol nasce no Oriente e logo depois diz que iniciam ao meio-dia.
Seria por uma tradução mal feita? Ao consultar uma obra de 1861, “Manual do Tejador“, de Andres Casard, confirmamos o texto usado até hoje.
Após reflexionar sobre o assunto, cheguei à conclusão que apresento neste trabalho.
Ao praticar o Ritual de Abertura dos Trabalhos verifiquei que podemos dividi-lo em três momentos, sem deixar de tratá-lo como um todo. A seguir a descrevo a conclusão que motiva este trabalho:
O primeiro momento revela a Criação do Universo Maçónico, o segundo momento mostra a Fase da Maçonaria Operativa e, o terceiro momento mostra a Fase da Maçonaria Especulativa.
Primeiro momento: A Declaração da Criação
“Ordo ab Chao”. Este é um dos principais dísticos do Rito Escocês e sobre ele iniciaremos esta argumentação.
Tentaremos mostrar este ponto de vista com um significado simbólico e esotérico.
Na leitura bíblica, em João 1: 1-3, encontramos:
- No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
- Ele estava no princípio com Deus.
- Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez.
“ORDO AB CHAO”. A Ordem surge do Caos através do Verbo.
O Verbo como sabemos é acção, é o “Princípio Motor” e a palavra manifesta acção.
Este “Princípio Motor” recebe um nome em cada uma das diversas tradições. Como exemplo temos o Demiurgo (na tradição grega platónica), Jeová (na tradição judaica), Alá (na tradição muçulmana), etc.
Todos estes mitos de criação têm como princípio a desordem, onde nada tem uma posição definida, ou nada existe de forma ordenada.
Tudo está e nada existe.
Antes da sessão o prédio de uma Loja maçónica estava vazio. O Pequeno Universo representado pela oficina do Rito Escocês Antigo e Aceito estava silencioso e sem vida.
Tudo está mas nada existe.
Para existir é necessário o verbo e ele só se manifesta através da força trinitária apoiada pelo duplo binário convertidos no hepta.
Nossas tradições dizem que para formar uma Loja devemos ter pelo menos sete Irmãos e estes são, o trinitário: Venerável Mestre e dois Vigilantes.
O duplo binário que são: Orador e Secretário. Guarda do Templo e Cobridor.
O prédio estava vazio mas, na hora marcada, os Irmãos vão chegando, a desordem vai se estabelecendo. Conversa, risadas, alegria do reencontro.
A desordem é estabelecida e o caos impera. O prédio antes vazio e silencioso, agora em efervescência. Antes o nada, depois o caos.
O lugar do encontro é chamado, por esse motivo, Sala dos Passos Perdidos.
Com uma Ordem expressa do Venerável Mestre, através do Mestre de Cerimonias, os ânimos se aquietam.
A palavra forte no momento definido, o verbo se manifesta e a desordem começa a perder sua forma anárquica e adquirir uma nova forma.
A hierarquia toma forma, ocupa seu lugar e após a entrada ao Templo o ternário iniciará seu trabalho para a criação do Pequeno Universo.
O que estava em Potencia se converte em Acto.
Ao um golpe na porta, esta se abre. Tomando lugar na frente de todos os Irmãos, ingressa ao Templo o Guarda do Templo e o Mestre de Harmonia.
Após alguns instantes, o ingresso é do Mestre de Cerimonias que, com o golpe de seu bastão, convida os Irmãos para entrada pelos dois lados, nas colunas do Norte e do Sul.
Ao acessarem ao Templo, os Irmãos ocupam seus lugares.
Os Aprendizes na coluna do Norte, junto a parede do Templo.
Os Companheiros junto a parede da coluna do Sul e os Mestres Maçons ao centro, em ambos os lados.
Os Mestres Instalados ocupam o Oriente e os Oficiais seus lugares predeterminados.
A entrada dos Irmãos é acompanhada por uma música suave, a música universal, a música do início da Criação.
Após o anúncio pelo Mestre de Cerimonias de que todos já ocuparam seus lugares, o verbo se faz presente no ritual, guiado pelo Venerável Mestre, pelos Vigilantes e Oficiais.
A construção do Universo Maçónico é feito através da Palavra, por orientação de perguntas e respostas entre os oficiantes. A Palavra e o Verbo sempre presentes.
A Ordem está sendo reestabelecida e cada entidade é colocada em seu lugar. Após o Caos do mundo profano a Ordem é definida dentro do Universo Maçónico.
Uma Loja Maçónica é vista pelo Rito Escocês Antigo e Aceito como um Pequeno Universo e para que os trabalhos possam ser exercidos este Universo deve ser criado.
O Acto da Criação é realizado.
A cada sessão maçónica existe um despertar, uma criação e um adormecimento.
Uma criação e ao fim uma quietude ao fim dos trabalhos.
A forma de retornar do Acto à Potência, em um Eterno Retorno.
Como resumo podemos dizer que o Rito Escocês Antigo e Aceito sofre em cada uma de suas sessões, e em praticamente em cada um dos seus 33 Graus, a construção de um Universo para trabalhar e ao término, esse Universo é aquietado, adormecido.
Primeiro saímos do Caos para a Ordem (Ordo ab Chao) e no fim do trabalho ritualístico no Templo, retornamos ao Caos do mundo profano.
Segundo momento: A Declaração da Maçonaria Operativa
Quando o Venerável Mestre pergunta sua motivação de sentar-se no Oriente, a resposta do Irmão Primeiro Vigilante identifica que estamos tratando da Maçonaria Operativa, quando os Irmãos estão iniciando seu trabalho:
– Assim como o Sol nasce no Oriente para fazer sua carreira e iniciar o dia, assim aí fica o Venerável Mestre, para abrir a Loja, dirigir-lhe os trabalhos e esclarecê-la com as luzes de sua sabedoria nos assuntos de nossa Sublime Instituição.
Nesta resposta fica claro que os Irmãos vão ao trabalho ao nascer o Sol, ao amanhecer, pois só poderão trabalhar de dia. Não se pode trabalhar sem a luz solar e sem orientação do Mestre da Obra.
Após horas de trabalho os Obreiros têm que repor energias para um breve descanso e, logo após, continuar com vigor a construção.
Isto é visto nas palavras do Segundo Vigilante quando responde sobre o seu lugar na construção:
– Para melhor observar o Sol no Meridiano, chamar os Obreiros para o trabalho e mandá-los à recreação, a fim de que os trabalhos prossigam com ordem e exactidão.
Quando os trabalhos chegam a meta estabelecida para aquela jornada, o Primeiro Vigilante determina o fim dos trabalhos com a seguinte resposta:
– Assim como o Sol se oculta no Ocidente para terminar o dia, assim aqui se coloca o Primeiro Vigilante para fechar a Loja, pagar os Obreiros e despedi-los contentes e satisfeitos.
Novamente, com esta resposta fica bem claro que se trata de Obreiros no Período Operativo, trabalhando somente a luz do dia.
Terceiro momento: A Declaração da Maçonaria Especulativa
Após a próxima declaração notamos que se inicia a fase Especulativa. Esta é percebida nas palavras do Primeiro Vigilante em resposta ao Venerável Mestre, que pergunta:
– Para que nos reunimos aqui, Irmão Primeiro Vigilante?
A reposta mostra o momento de transição pois já não trata da construção de um Templo Material mas sim de um Templo Intelectual baseado na Moral e na Ética:
– Para combater a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros e glorificar o direito, a justiça e a verdade, para promover o bem-estar da pátria e da humanidade, levantando templos a virtude e cavando masmorras ao vício.
Esse aspecto fica bem claro quando o Venerável Mestre pergunta ao Primeiro Vigilante:
– Durante que tempo devemos trabalhar como Aprendizes Maçons?
– Do meio-dia à meia-noite.
Esta é uma confirmação que o trabalho não necessita mais da luz solar e sim da luz do intelecto. O trabalho artesanal foi alterado para o trabalho intelectual.
Como conclusão podemos dizer que o Rito Escocês Antigo e Aceito nos mostra aspectos e características próprias de um trabalho de um artífice de grande conhecimento e sabedoria mostrando a um só tempo, em uma abertura de trabalho relativamente curta mas de grande poder de inspiração hermética.
Nos mostra então: a Criação de um Universo, de um período de Trabalho Manual para a transformação de um período de Trabalho Intelectual e Especulativo.
Resume o ritual de abertura a Criação de um Universo.
Após obreiros que iniciaram construindo catedrais, palácios e monumentos para construir hoje, homens com virtudes e aperfeiçoamento em seu intelecto para melhor servir a comunidade onde vive. O lapidar de homens cada vez melhor dentro da Ética Maçónica.
Roberto Raul Hübner Viola – M∴ I∴ – R∴ L∴ S∴ Perseverança nº 171, Oriente de Pelotas – Grande Loja Maçônica do Estado do Rio Grande do Sul – Brasil
Fontes
- Grande Loja, Ritual do Grau de Aprendiz Maçom, Porto Alegre, editora Acácia, 2018.
- Cassard Andress, Manual de la Masoneria, Segunda edição, editora Macoy y Sickles, 430 Broome Street, Nova York, 1861.