O cardeal Gianfranco Ravasi garante que a Igreja e a Maçonaria partilham valores em comum
No dia 14 de Fevereiro de 2016, o cardeal Gianfranco Ravasi, responsável pela cultura do Vaticano (presidente do Pontifício Colégio da Cultura, um dos doze que compõem a Cúria Romana), escreveu no jornal Il Sole 24 Ore uma carta aberta aos “irmãos Maçons ”em que pediu que se supere “aquela atitude de certos círculos católicos fundamentalistas que recorreram à arma da acusação categórica de pertencer à Maçonaria ”, falando em construir “pontes e não muros”, lembrando que muitas Respeitáveis Lojas inglesas integram membros do clero da Igreja Anglicana e que foi um pastor presbiteriano que escreveu as Constituições da Maçonaria Regular.
“Caros Irmãos Maçons“. Este é o título que o diário Maçónico italiano Il Sole 24 Ore deu, ao artigo que lhes foi enviado pelo cardeal italiano Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Colégio da Cultura. Neste artigo, o cardeal apela a um diálogo entre a Maçonaria e a Igreja Católica baseado, segundo ele, nos “valores comuns” das duas instituições, como o sentido de comunidade, a beneficência, a luta contra o materialismo ou a defesa da dignidade humana.
O cardeal diz no artigo – cujo título não lhe é atribuível, mas à publicação em que foi inserido – que a Maçonaria tem uma visão do homem “baseada na liberdade de consciência e intelecto e na igualdade de direitos” e, por outro lado, “um deísmo, que reconhece a existência de Deus, mas que deixa em aberto a definição da sua identidade”.
O cardeal Ravasi faz uma reflexão no seu artigo sobre a relação entre a Maçonaria e outras Igrejas Cristãs. Lembra que muitas Respeitáveis Lojas inglesas respeitáveis são participadas pelo clero da Comunhão eclesial Anglicana e que foi um pastor presbiteriano que escreveu as Constituições da Maçonaria Regular, nas quais se afirma que um maçom “nunca será um ateu estúpido ou um libertino irreligioso”.
O artigo não questiona as várias declarações de incompatibilidade por parte da Igreja Católica a uma dupla filiação, mas acrescenta que estas “não impedem, porém, o diálogo”. O cardeal Ravasi pede a superação das atitudes de “certos círculos católicos fundamentalistas” e pede “para ir além da hostilidade, dos insultos e dos preconceitos recíprocos”.
O Grão-Mestre do Grande Oriente da Itália, Stefano Bisi, fez uma avaliação do artigo do cardeal, que até agora só foi publicado em italiano:
“Fico feliz em saber que falou da Maçonaria sem preconceitos e com a ampla visão cultural que o caracteriza, e que, para além dos esclarecimentos e da posição oficial e escrita da amplamente conhecida Igreja, reconheceu, sem ideias pré-concebidas, que entre estas duas realidades existem também valores comuns que nos unem e que, no entanto, não anulam os diferentes pontos de vista e as diferenças marcantes”.
O Grão-Mestre da Maçonaria Italiana concorda com a tese central do artigo do cardeal:
“Os valores comuns que nos unem são a dimensão comunitária, a dignidade humana, o combate ao materialismo e a beneficência. Sobre essas bases, pode-se fomentar um diálogo construtivo com pleno respeito pelas identidades diversas”.
Artigo do Cardeal Gianfranco Ravasi
(A tradução do artigo pode ser lida AQUI)
Sobre este artigo, o Grão-Mestre do Grande Oriente de Itália, Stefano Bisi, escreveu a seguinte Carta
Carta de Stefano Bisi ao jornal Il Sole 24 Ore
Tradução de António Jorge
Fontes
- A origem dos conflitos entre a Maçonaria e a Igreja Católica
- A relação entre a Maçonaria e a Igreja Católica – um resumo histórico
- Católicos e Maçons – Entrevista com o Padre Ferrer Benimeli
- Clérigo do Vaticano afirma que católicos podem ser Maçons
- Clero Católico na Maçonaria e a questão do Anticlericalismo e do Antimaçonismo em Portugal
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