Pode-se ser Católico e Maçom?

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congregação para a doutrina da fé, maçom

A chancelaria da diocese de Annecy explica as razões para a incompatibilidade entre a fé católica e a condição de membro de uma loja maçónica.

O Código de Direito Canónico de 1983 não menciona explicitamente a Maçonaria, ao contrário daquele de 1917. Isto pode ter sido interpretado como uma mudança na posição da Igreja. Em nota datada 26 de Novembro de 1983, a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) afirma que “o julgamento da Igreja sobre as associações maçónicas permanece inalterado … e a inscrição nelas permanece proibida pela Igreja”, isto precisamente devido à incompatibilidade entre os princípios da Maçonaria e os da fé cristã. A CDF situa-se no plano da fé e as suas exigências morais, uma vez que o facto de se inscrever na Maçonaria põe em causa os fundamentos da existência cristã.

relativismo é o próprio fundamento da Maçonaria. Este é o próprio nó da incompatibilidade, devido às consequências sobre o conteúdo da fé, o acto de fé em si, a acção moral e a condição de membro da Igreja Corpo de Cristo.

Os maçons negam a possibilidade de um conhecimento objectivo da verdade. Pede-se a um Maçom que seja um homem livre, quem não conheça qualquer submissão a um dogma, o que implica em rejeitar fundamentalmente todas as posições dogmáticas: “Todas as instituições que repousam sobre um fundamento dogmático, das quais a Igreja Católica pode ser considerada como a mais representativa, têm uma restrição à fé” (Lennhoff-Posner, Dicionário Maçónico Internacional , Viena, 1975, p. 374). Rejeitam-se todos os dogmas, sob o pretexto de “tolerância absoluta”.

Assim, o Maçom sustenta a primazia e a autonomia da razão em relação a qualquer verdade revelada. Ele recusa até mesmo a ideia de uma revelação, as religiões sendo vistas como tentativas concorrentes para exprimir a verdade sobre Deus, que em última análise é inacessível e incognoscível. Cada um julga por si mesmo a verdade, e cabe a ele mesmo a sua própria norma. Deixada por si mesma, a razão não é mais finalizado pela busca da Verdade. Ela fica à mercê das ideologias ou de construções subjectivas. “Em tudo, é a razão humana e a natureza humana que permanecem soberanas”. Daí o argumento, tipicamente maçónico de “liberdade absoluta de consciência.”

Não há, portanto, de acordo com a Maçonaria, qualquer conhecimento objectivo de Deus, enquanto Ser pessoal. Isto é o oposto da concepção cristã de Deus que se revela, entra em diálogo com o homem, e da resposta do homem que se dirige a ele, chamando-o Pai e Senhor. O Concílio Vaticano II expressou-o nestes termos: “Aprouve a Deus, na sua sabedoria e bondade revelar-se e dar a conhecer o mistério da sua vontade graças à qual os homens, por meio de Cristo, o Verbo feito carne, o acesso ao Espírito Santo, junto ao Pai e somos feitos participantes da natureza divina. Nessa Revelação, o Deus invisível fala aos homens no seu imenso amor, bem como aos amigos, ele fala com eles para os convidar, recebê-los e partilhar a sua própria vida” (D.V. 2)

Os dogmas da Igreja são expressões da fé recebida dos Apóstolos. Eles não são formulações arbitrárias, fechadas em si mesmas. Ao contrário, eles são balizas que indicam o mistério de Cristo, “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jn 14:6). Estas “definições” de fé são-nos dadas para iluminar as nossas mentes e dar razão à nossa fé.

Ao sustentar o primado e a autonomia da razão em relação a qualquer verdade revelada, o homem tenta aperfeiçoar-se constantemente com base no seu poder autocriador. Segundo a “filosofia” maçónica, o homem não tem necessidade de salvação. Mas, o Evangelho é o anúncio feliz da Salvação: o cristão espera e recebe a salvação através da graça misericordiosa de Deus, na pessoa de Jesus é precisamente o Salvador (Jesus = “Deus salva”). “É bem pela graça que sois salvos, por causa da sua fé. Esta não vem de vós, é o dom de Deus “(Ef 2, 8).

Eticamente, as diferenças também são também significativas. Para o Maçom, as regras morais são instadas a evoluir constantemente sob a pressão da opinião pública e do progresso da ciência. A moralidade evolui ao sabor do consenso das sociedades. Se é exacto que o homem se encontra sempre numa determinada sociedade, é preciso, então, admitir que o homem não é definido totalmente por esta cultura; que ele não é o “produto” de uma cultura. Há algo no homem que transcende as culturas: o que a fé cristã expressa dizendo que “o homem é criado à imagem de Deus.”

A Maçonaria nega assim qualquer autoridade moral e doutrinária, contando com a autonomia individual, rejeitando os argumentos de autoridade, e exigindo a liberdade absoluta de consciência. É, finalmente, a regra do “Eu”! E o domínio do relativismo … As diferentes denominações religiosas a que pertencem os membros são consideradas secundárias em relação à condição de membro da Ordem, mais inclusiva e supra-confessional da fraternidade maçónica: o que inevitavelmente leva a apreciar e julgar tudo do ponto de vista maçónico … sem perceber.

O envolvimento no seio da Maçonaria transforma o acto de fé cristã. Ele não pode ser neutro: os ritos de iniciação no segredo das lojas, inevitavelmente, produzem os seus efeitos sobre os membros. A alegação de “liberdade absoluta de consciência” é o produto da “doutrina” relativista que se impõe gradualmente, mesmo à revelia dos interessados. A Maçonaria reivindicando para os seus membros uma adesão plena, é óbvio que a “dupla filiação” é impossível para um cristão que “pertence a Cristo” (Rom. 14:08).

A Chancelaria
Diocese de Annecy – 27 de Maio de 2013

Tradução feita por José Filardo

Fonte

Fonte Original

  • http://www.diocese-annecy.fr/rubriques/haut/diocese/leveque/textes-officiels/quelques-notes-sur-la-fm.pdf

Referências

  • “A Igreja e Maçonaria. Declaração dos Bispos da Alemanha ” , La Documentation Catholique, N° 1807 – 3 Maio 1981, p.444-448.
  • “A fé cristã e Maçonaria”. Osservatore Romano 26.11.83 – La Documentation Catholique, N° 1895 – 5 Maio 1985, p. 482-483.

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2 thoughts on “Pode-se ser Católico e Maçom?”

  1. José Luiz Rebello

    Meu nome José Luiz Rebello católico,cristão há 75 anos e maçom iniciado em 1977. Conheço bem as duas instituições. E na minha visão uma não diverge da outra. Sempre fui cristão,católico, e como cristão fui iniciado em uma loja de judeus franco-egípcios e saí de lá porque o meu francês não era dos melhores. Na minha óptica as duas instituições se completam. Ambas querem o bem estar da humanidade.

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